sexta-feira, 29 de abril de 2011

No Rio, OEA é criticada por atuação em casos de direitos humanos

..RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Organização dos Estados Americanos (OEA) virou alvo de pesadas críticas na sexta-feira, durante encontro da edição latino-americana do Fórum Econômico Mundial, por supostamente fazer vista grossa para países da região que estariam desrespeitando direitos civis e democráticos.

Num painel sobre governança na América Latina, o secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza, foi interpelado pela congressista independente da Venezuela, Maria Corina Machado, que acusou a OEA de indiferença ao que ela chamou de graves crimes contra os direitos humanos em seu país por parte do governo do presidente Hugo Chávez.

Em seguida, representantes de organizações não governamentais de outros países da região presentes na plateia passaram a reclamar da atuação da OEA também em Cuba, Equador e Bolívia.

Algumas pessoas se manifestaram, dizendo que "a carta de princípios da OEA, de proteção a direitos individuais, não está sendo respeitada".

Outro manifestantes afirmou a Insulza: "o senhor prometeu visitar a Venezuela para verificar denúncias de desrespeito à democracia e estamos esperando". "Há irregularidades sérias no Equador, na Bolívia e em Cuba", acrescentou outra pessoa.

O ex-ministro de Relações Exteriores do México Jorge Castañeda, que mediava o painel, se viu obrigado a intervir, após as manifestações terem sido seguidas de uma salva de palmas da plateia. "Não vamos mudar o rumo do debate", disse ele no painel sob o título "Fortalecendo a Governança Regional."

Em seguida, Insulza respondeu que a fiscalização in loco da OEA a processos eleitorais ou para questões ligadas a direitos humanos só pode acontecer com autorização formal do país em questão.

"Não temos mecanismos de coerção física, além disso a OEA precisa ser convidada e isso não aconteceu no caso da Venezuela", argumentou Insulza. "Não podemos atropelar o estado de direito."

Para a congressista venezuelana, as declarações de Insulza são uma desculpa da OEA para tolerar a violência de governos autoritários na região.

(Reportagem de Aluísio Alves)
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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Unesco condena assassinato de radialista e pede apoio à liberdade de expressão no Brasil


Publicado em 18.04.2011, às 16h52
A diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Irina Bokova, condenou nesta segunda-feira (18) o assassinato do radialista e apresentador de TV Luciano Leitão Pedrosa, de 46 anos, em Vitória de Santo Antão, Zona da Mata Pernambucana. Para Bukova, é fundamental que o governo do Brasil dê garantias do exercício da liberdade de imprensa e de expressão no país. As informações são das Nações Unidas e da Unesco.

Pedrosa foi morto no último dia 10, depois de fazer uma série de reportagens sobre grupos de extermínio em Pernambuco e criticar a ação das autoridades locais. As reportagens de Pedrosa foram ao ar no programa Ação e Cidadania, transmitido pela TV Vitória e pela rádio Metropolitana FM. Nos últimos meses, o jornalista se queixava de estar recebendo ameaças. Para Bukova, a liberdade de imprensa deve ser garantida a todos os profissionais.

“Os jornalistas devem ser livres para trabalhar sem medo. O debate público está no cerne da governabilidade democrática. O assassinato de Luciano Leitão Pedrosa é um ataque direto a este debate e contra o direito humano fundamental da liberdade de expressão. Eu condeno este assassinato e os responsáveis não devem ficar impunes", disse Bukova.

Bukova lembrou que ataques a jornalistas no Brasil são relativamente frequentes. A diretora-geral recordou de um tiroteio, em março, contra o jornalista Ricardo Gama, no Rio de Janeiro. O autor dos disparos, segundo ela, não foi identificado.

A diretora-geral da Unesco lamentou também o assassinato do repórter de televisão do Iraque Taha Hameed. O profissional iraquiano foi morto enquanto dirigia um carro no qual estavam também ativistas de direitos humanos no Iraque, no último dia 8. O carros deles foi alvo de tiros em Bagdá, capital iraquiana. De acordo com o Instituto Internacional de Imprensa, Hameed é o quinto jornalista a ser morto no Iraque apenas este ano.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nota pública sobre liberdade de imprensa e sigilo de fonte


Por: entidades*

Uma série de reportagens sobre a falta e o mal uso de equipamentos no Corpo de Bombeiros de Pernambuco, publicadas pelo Jornal do Commercio no final de janeiro, deu origem a uma investigação por parte da Corregedoria-Geral da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.

A portaria que dá início à sindicância, assinada em 27 de janeiro, é clara quando informa que pretende realizar um “aprofundamento nas diligências, com vistas a materializar conduta de transgressão disciplinar ou não”. Por tratar-se de uma iniciativa da corregedoria, acredita-se que tem como investigados integrantes da própria corporação.

Poder-se-ia inclusive pensar que os coronéis incumbidos da tarefa iriam chegar a conclusões sobre a veracidade dos fatos publicados e, comprovadas as denúncias, inclusive impor punições aos responsáveis por, entre outras coisas, veículos que supostamente não funcionam.

Aparentemente, porém, o objetivo das autoridades não parece ser o de comprovar – ou negar – a veracidade das denúncias de má gestão de equipamentos que foram repercutidas por outros meios de comunicação. Ao que tudo indica, o que se pretende é descobrir de onde saiu a informação que chegou aos veículos de mídia.

De acordo com matéria noticiada pelo mesmo JC, a SDS intimou o repórter João Valadares – autor da série – a prestar depoimento. De acordo com o profissional, nada lhe foi perguntado sobre o conteúdo de suas reportagens, mas sobre quem seria sua fonte. Respaldado na própria Constituição Federal (Artigo 5o, inciso XIV), o jornalista negou-se a responder. Tanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos, nos seus artigos XIX e XXIV, como a Convenção Americana de Direitos Humanos, no seu artigo 13, estabelecem a obrigação dos agentes de Estado em respeitar tal prerrogativa e vedam qualquer tipo de interferência.

Por três horas, o repórter foi perguntado se teria amigos na corporação e foi inclusive convidado a reconhecer um oficial através de fotografia.

Tais procedimentos não combinam com a liberdade de imprensa que ainda buscamos para nosso estado ou nosso país. O direito de preservar o sigilo de suas fontes é uma prerrogativa constitucional daqueles e daquelas que praticam o jornalismo. Ao longo da história, a manutenção deste sigilo tem sido responsável pela revelação e o enfrentamento de irregularidades e crimes realizados nos mais diversos espaços.

O exercício do livre jornalismo não está, de maneira alguma, isento de questionamentos e discordâncias. É preciso inclusive que existam mecanismos de regulamentação e controle social que tornem esse diálogo mais democrático e saudável inclusive para que realmente haja liberdade de imprensa.

É legítimo que a Secretaria de Defesa Social, ou qualquer outra instituição, reflita, critique, discuta, discorde e até divulgue seu posicionamento diante de reportagens realizadas sobre suas atividades. Também é legítimo, em casos de calúnia e difamação, que a suposta vítima busque reparação e responsabilize o veículo de comunicação por eventuais informações falaciosas.

Não é o caso. Não é tarefa da SDS investigar o exercício do jornalista do jornalismo. Nem mesmo identificar, constranger ou punir a pessoa que denuncia irregularidades. Ao questionar o repórter sobre quem teria fornecido dados para a suas matérias, a corregedoria dá um grande passo em falso. Desvia o foco de uma sindicância que poderá – isso sim – esclarecer a população sobre possíveis irregularidades no comando ou mesmo nos processos internos do Corpo de Bombeiros de Pernambuco.

*Assinam este documento

Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH)

Fórum Pernambucano de Comunicação (Fopecom)

Centro de Cultura Luiz Freire

Auçuba Comunicação e Educação

Grupo Giral

Gajop

Cendhec

União Brasileira de Mulheres (UMB)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O neoliberalismo que disfarça o capitalismo

Participar e fazer parte da sociedade como indivíduos, com direitos que lhe são negados, em uma sociedade altamente capitalista que se diz neoliberalista, onde o individualismo ocupa o foco central de várias vidas, é saber também que o costume com o que se tem é a única forma de se achar incluso nas políticas ou pensamento dos governos.

O conformismo tem deixado grande parte da sociedade de braços cruzados quando o assunto é lutar pelo que se quer de verdade. Chomsky (2002, p.36) afirma que o “neoliberalismo é o paradigma econômico e político que define o nosso tempo”. Ele consiste em um conjunto de políticas e processos que permitem a um número relativamente pequeno de interesses particulares controlarem a maior parte possível da vida social com o objetivo de maximizar seus benefícios individuais.

Chomsky afirma ainda que, o neoliberalismo é de fato o “capitalismo sem luvas”, e “representa uma época em que as forças empresariais são maiores, mais agressivas e se defrontam com uma oposição menos organizada do que nunca”.

A individualidade de certas pessoas satura a grande massa, deixando-a em um caminho desequilibrado e descansado, tirando dessas pessoas toda e qualquer arma de luta pela igualdade, já que ninguém, nunca foi e nem será melhor que o outro.

Portanto, é possível concluir que, a desigualdade social gerada pelas políticas neoliberais solapa todo e qualquer esforço de realização da igualdade de direitos, necessária para que a democracia tenha credibilidade. As grandes empresas tem meios de influenciar a mídia e controlar o processo político, e assim os querem, e assim, os fazem.


Por: Cleyton Douglas

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A reportagem jornalística vista do “outro lado do balcão”


Um dos melhores pontos de observação da imprensa é o que poderíamos chamar de “o outro lado do balcão”, ou seja, como fornecedor de informações. Por conta da consultoria que dou à recém-criada Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) acabei levado para o lado de quem dá notícias para a imprensa e aí é possível observar alguns desvios de conduta no comportamento dos repórteres em geral.

Há dois problemas predominantes: a subserviência e a arrogância. No primeiro caso, o repórter se comporta como se fosse um escriba, datilógrafo ou digitador: simplesmente reproduz o que é dito pelo entrevistado, sem questionar ou contextualizar. Este tipo de repórter, em geral, é bem visto pelos políticos e empresários porque não incomoda, mas é o que mais erros comete porque lhe falta visão de conjunto. Mas como o erro é “a favor” , poucos se queixam.

Já o outro tipo de repórter chega para uma entrevista ou matéria com uma pauta prévia e geralmente está apenas a procura de fatos, histórias e citações que justifiquem ou reforcem uma ideia já estabelecida. É o repórter que passa o tempo todo jogando “cascas de banana” para o entrevistado esperando que ele escorregue numa delas. Isto faz parte de uma estratégia que transforma a entrevista num interrogatório. Este tipo de repórter também comete muitos erros, mas eles são em geral gerados pelo fato de o profissional tentar acomodar os fatos encontrados à agenda que trouxe da redação.

Os dois comportamentos são igualmente equivocados do ponto de vista da informação transmitida ao público, embora nas redações o primeiro seja criticado e o segundo, elogiado. A dinâmica industrial predominante na maioria das redações é a principal responsável por esses dois tipos de distorção que acabaram se tornando tão comuns que já foram incorporados à rotina.

O desenvolvimento das técnicas de media trainning levou os entrevistados, especialmente os situados em cargos importantes ou as personalidades públicas, a usarem o contato com a imprensa como espaço para promoção pessoal ou institucional. Os inúmeros artifícios e recursos desenvolvidos por especialistas contribuíram para distorcer ainda mais o resultado de uma entrevista, pois o público acaba tendo que se esforçar para saber até onde vai a notícia desinteressada e onde começa o marketing disfarçado de informação.

Essa dúvida leva muitos entrevistados a achar que os repórteres têm sempre uma agenda oculta quando fazem uma pergunta. Com isso, tanto o entrevistador como o entrevistado se comportam como se estivessem num jogo, mais preocupados com a performance do que com a informação. Quem acaba perdendo é o leitor, que não participa do jogo e tem dificuldade para “ler nas entrelinhas” — ou seja, o que não é dito formalmente pelo repórter e pela fonte.

A relação entre repórter e fonte passa cada vez mais pela desconfiança, o que provoca situações paradoxais. Os entrevistados aguardam a publicação da reportagem como se ela fosse uma espécie de veredicto. Isso faz com que o temor de ver declarações publicadas fora de contexto acaba levando muita gente e evitar o contato com a imprensa.

O jornalista, por seu lado, enfrenta um número crescente de condicionamentos ao seu trabalho por pessoas e instituições interessadas em se proteger contra o que muitos já chamam de síndrome das meias verdades. É difícil a imprensa publicar hoje uma mentira completa por temor de represálias legais. Mas são cada vez mais frequentes as meias verdades, isto é, fatos e dados sem uma contextualização adequada. É o famoso caso do copo meio cheio ou meio vazio, tudo depende do contexto em que o fato foi situado.

O fato concreto é que as entrevistas jornalísticas perderam o seu significado como ferramentas de comunicação para se tornarem exercícios de marketing institucional e pessoal. A maior preocupação, tanto de entrevistador como do entrevistado, é tentar descobrir o que o outro está tentando ocultar ou qual recado que está procurando passar de forma velada.

O resultado é que raramente ambas as partes saem satisfeitas de uma entrevista. O entrevistador porque dificilmente conseguirá tirar tudo o que desejava da fonte e esta porque normalmente critica o enfoque dado ao texto, a seleção de informações, o estilo narrativo usado e as fotografias escolhidas. Nenhuma das partes se dá conta de que uma entrevista é também um momento de diálogo entre um repórter e uma fonte informativa, no qual o primeiro tenta captar o conhecimento do interlocutor para transmiti-lo ao público.

E o segundo tem uma oportunidade rara de entender como uma informação pode ser melhor compreendida pelo leitor, em vez de se preocupar apenas com sua imagem pessoal e encarar o jornalista como um mero transmissor de recados, ou ainda como alguém especializado no escambo informativo.

A solução para esses problemas é elementar e óbvia, mas apesar disto dificilmente levada em conta pelos dois ‘lados do balcão’: ouvir o que o outro tem a dizer.
postado por Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa!

sábado, 2 de abril de 2011

A"beleza asseada" das imagens da guerra

Showrnalismo, a notícia como espetáculo, de José Arbex Jr, 292 pp., Editora Casa Amarela, São Paulo, 2002


O uso que se fez da TV nas duas guerras do Golfo é realmente apavorante. As "belas" cenas de bombardeio e uma absoluta ausência de sangue conseguiram convencer o público que a guerra é como um videogame. Não é, não! Cada bomba que vimos explodir num ataque norte-americano ao Iraque, Sérvia ou Afeganistão, causou dezenas, centenas, milhares, dezenas de milhares de mortos e mutilados. Nenhuma guerra foi limpa. Nenhum conflito armado é ou será lindo. Toda guerra produz vítimas inocentes, além do odor nauseabundo de cadáveres insepultos. Na tranquilidade de nossos lares, não lamentamos pelas vítimas dos bombardeios norte-americanos. Ficamos hipnotizados pela "beleza asseada e ilusória" das imagens feitas pelas próprias bombas e que lembram um videogame.

Contudo, se aquelas mesmas bombas estivessem caindo em nossas cabeças e o espetáculo estivesse sendo assistido em outro país, certamente nossa perspectiva da guerra seria outra. Neste particular, a crítica do uso da TV pelos senhores da guerra é essencial e foi feita de maneira competente por Arbex.

"A televisão é um polo ativo do processo de seleção e divulgação das notícias e também dos comentários e interpretações que delas são feitas. Ela não é mera `observadora´ ou `repórter´: tem o poder de interferir nos acontecimentos. O tele-noticiário diário adquiriu o estatuto de uma peça política, cuja lógica é determinada pelas relações de cada veículo de mídia com o sistema político, financeiro e econômico do país ou região em que ele se encontra."

Show de amnésia e memória

A afirmação supra é especialmente verdadeira se considerarmos a cobertura das guerras norte-americanas. Preocupadas em difundir a "beleza asseada e ilusória" das imagens produzidas sob medida pelos militares e as opiniões dos especialistas (eufemismo para militares), as redes de TV endossaram a matança indiscriminada de velhos, mulheres e crianças. Raramente alguém na TV fez qualquer objeção à rígida censura jornalística imposta pelos norte-americanos ou fez a crítica da estética nazista.

Na primeira parte, o autor trata ainda do indivíduo na era do clichê, do show de amnésia e memória, de como a televisão contamina a cultura e da ilusão "do fato como ele aconteceu". Na segunda parte, o autor faz uma retrospectiva de sua rica experiência como jornalista da Folha de S.Paulo. Mas não vou estragar as agradáveis surpresas que a obra proporciona ao leitor. Encerro aqui esta resenha de Showrnalismo, livro que vale cada centavo de seu preço.

Por Cleyton Douglas