sábado, 19 de junho de 2010

AINDA BEM QUE O SOL E A LUA SE ENTENDEM Pelo o menos, é o que se parece.


Resenha Crítica do filme: Um lugar ao sol

Por Cleyton Douglas Vital

Em um lugar ao sol, o diretor pernambucano Gabriel Mascaro, apresenta o desafio de quebrar paradigmas de filmes brasileiros, e apimentar o mundo da higth society tão pouco explorado. O longa-metragem teve o embasamento de um livro, que narra pessoas influentes na sociedade brasileira, nele, estão catalogados depoimentos de 125 proprietários de coberturas de luxo em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, onde desse aglomerado, apenas nove moradores concordaram em dar depoimentos para o documentário.
Um lugar ao sol, permite um debate sobre visibilidade, poder, insegurança, status e a presença, cada vez mais forte, de uma paisagem vertical. Além disso, procura investigar o momento em que à busca por esse tipo de moradia deixa de ser apenas realização de um sonho, para ser uma necessidade, vendido diariamente pelas construtoras.
O Poder de ter money, desejo e reconhecimento, se entrelaça com a realidade de uma classe que no filme se representa nas pessoas ouvidas, sorrisos e comentários, chegam causar azia. “É muito bom está por cima, e quem não gostaria de ter essa visão privilegiada, sem contar que me afasto da violência, do barulho, e do caos”. “Bonito mesmo, é ver as balas coloridas”, chega a ser engraçado, desgraçado é, ver o ser humano ter que se proteger dos tiros de fuzis, que diferente das balinhas coloridas, causam cicatrizes eternas. Onde está o sentido dessa comparação? Nem mesmo um sal de frutas, para aliviar este queimor.
Chega a ser engraçado, ouvir um personagem dizer que “frequenta os melhores hotéis e restaurantes...”, ver também uma senhora cujo amigo fiel é um animalzinho empalhado e seu nome é Bush, seu filho remete a uma versão do burguês industrializado, ouvir um rapaz dizer que “as pessoas me chamam de playboy, mas meus pais trabalharam muito pra eu estar aqui”, e a uma mãe chamar o filho já adulto de adolescente, essas cenas funcionam muito mais como uma ficção bizarra e cômica, do que algo advindo de alguma relação mais complexa e ponderada com o real. Na ficção, tudo bem; no documentário, nem tanto: ainda que a ponte entre ambos seja uma linha ou ainda inexistentes de vários pontos de vista, no que tange à ética, ela me parece bastante clara.
No documentário, Mascaro acaba atribuindo aos entrevistados, contribuição com a desigualdade social, precauções foram tomadas para proteção dessas pessoas, uma delas foi o direito de não terem seus nomes divulgados, exigência feita pelos entrevistados. Mas, valo-me aqui, do seguinte ditado: “uma imagem vale mais que mil palavras”, e quando essas imagens têm conteúdos preocupantes, já se viu.
Para Gabriel Mascaro, residir em coberturas é principalmente uma questão de classes. Mas o maior desconforto do discurso de classes dentro da arte é tentar associar espaço e posição social. Afinal, de que elite Gabriel Mascaro está falando? No longa-metragem, não existe à percepção de que em grande parte das cidades brasileiras, quem está mais alto, definitivamente, é o morador de favela, o que, por si só, torna mais difícil entender a fragilidade do tema, com a associação de espaço e posição social. Assim, logo seu objetivo estaria desconstruído. Afinal, não poderíamos chamar de elites, moradores residentes em altas favelas?
É certo, sempre que o vídeo for exibido cada telespectador terá sua relação subjetiva, política e ética com as possíveis falas, ressalto aqui, nenhum incomodo ao ver ridicularizado pessoas como o dono de uma famosa boate de prostituição luxuosa, homem que não tem respeito algum ao fazer analogias, com as diferentes classes sociais, comparando à terceira classe de um avião, com uma senzala, expondo assim suas ideias, com orgulho do que elas representam.
Deslizando-me com veemência nas imagens feitas nas praias, logo sinto que a leveza e liberdade são privadas por alguns instantes. As sombras projetadas por oito edifícios, passam a ideia de autoridade e poder, se no momento for considerável uma analogia, o gigante Golias e o pequeno David, representaria bem esse contexto.
Entre risadas, indignação, subjetividade... Saí de Um lugar ao sol, relembrando questões problemáticas da violência urbana, que não é novidade, e sim, um (clichê), e em meio a tantas falas, não restou momento que permitisse uma reflexão mais aprofundada do que realmente se queria com o produto.
De tudo isso, fica uma certeza, bom seria que as pessoas aprendessem exercitar o que diz um trechinho da música “O lugar ao sol” do Charlie Brown Jr, “nossas vidas, nossos sonhos têm o mesmo valor”, se assim, o sol brilharia bem mais forte.

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