quinta-feira, 31 de março de 2011

Sony condenada por Racismo


Memorial Lélia Gonzalez cumprimenta e agradece ao Dr. Humberto Adami

A 16ª Câmara Cível do Rio condenou a Sony a pagar R$ 300 mil mais correção (cerca de R$ 1,2 milhão no total) ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos numa causa do movimento negro e do advogado Humberto Adami.

A sentença se refere a um caso em que Tiririca cantava num CD de 1996 que mulher negra “fede como gambá”.
_____

Gravadora é condenada a pagar indenização por música considerada racista em CD de Tiririca. Para advogado, caso foi ‘bullying’

Ana Carolina Torres

O advogado Humberto Adami - que representava 15 entidades do movimento negro na ação que condenou a Sony Music a pagar R$ 1,2 milhão de indenização por conta de uma música do atual deputado federal Tiririca, gravada num CD de 1996, e considerada racista - disse, nesta quarta-feira, que o caso foi um dos primeiros de "bullying" no Brasil. O processo, iniciado em 1997, tinha como alvo a canção "Veja os Cabelos Dela", composta pelo próprio Tiririca e que dizia: "Parece bom-bril, de ariá panela / Eu já mandei, ela se lavar / Mas ela teimo, e não quis me escutar / Essa nega fede, fede de lascar / Bicha fedorenta, fede mais que gambá".

- A música era tocada em escolas e muitas mães negras começaram a ter problemas com as filhas. As crianças não queriam mais ir à escola - disse Humberto.

Coordenadora da ONG Criola - de Defesa e Promoção dos Direitos das Mulheres Negras -, Lúcia Xavier disse que a condenação da Sony foi uma vitória. Segundo ela, a gravadora tem que ser responsável pelo conteúdo veiculado pelos CDs que lança:

- Essa decisão recoloca em nosso estado a obrigatoriedade do respeito ao cidadão.

A condenação da Sony foi noticiada pelo jornalista Ancelmo Gois, em sua coluna no jornal O Globo desta quarta-feria. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Sony limitou-se a informar que vai recorrer da sentença.

Fonte: Ancelmo Goes
Extra. Globo


Memorial Lélia Gonzalez cumprimenta e agradece ao Dr. Humberto Adami

www.leliagonzalez.org.br
Blogs - Ações Afirmativas / Informa / Continente África

terça-feira, 29 de março de 2011

Nota de falecimento

Morreu nesta terça-feira (29) o ex-vice-presidente da República José de Alencar. Após lutar contra um câncer desde 1997, inicialmente nos rins mas que depois espalhou-se por outros órgãos, Alencar não resistiu a um quadro grave de obstrução intestinal e faleceu às 14h45 no Hospital Sírio Libanês.
O Eu Democratizo, assim como todo o Brasil, lamenta tal perda.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Donas de casa e cabeleireiras são proprietárias de concessões milionárias

Por trás das empresas há igrejas, políticos e especuladores que, assim, conseguem ocultar a participação



FOLHA DE SÃO PAULO, 27/03/2011

ELVIRA LOBATO
DO RIO

Empresas abertas em nome de laranjas são usadas frequentemente para comprar concessões de rádio e TV nas licitações públicas realizadas pelo governo federal, aponta levantamento inédito feito pela Folha.
Por trás dessas empresas, há especuladores, igrejas e políticos, que, por diferentes razões, ocultaram sua participação nos negócios.
Durante três meses, a reportagem analisou os casos de 91 empresas que estão entre as que obtiveram o maior número de concessões, entre 1997 e 2010. Dessas, 44 não funcionam nos endereços informados ao Ministério das Comunicações.
Entre seus "proprietários", constam, por exemplo, funcionários públicos, donas de casa, cabeleireira, enfermeiro, entre outros trabalhadores com renda incompatível com os valores pelos quais foram fechados os negócios.
Alguns reconheceram à Folha que emprestaram seus nomes para que os reais proprietários não figurem nos registros oficiais. Nenhum, porém, admitiu ter recebido dinheiro em troca.
Há muitas hipóteses para explicar o fato de os reais proprietários lançarem mão de laranjas em larga escala.
Camuflar a origem dos recursos usados para adquirir as concessões e ocultar a movimentação financeira é um dos principais.
As outras são evitar acusações de exploração política dos meios de comunicação e burlar a regra que impede que instituições como igrejas sejam donas de concessões.
Não há informação oficial de quanto a venda das concessões públicas movimentou. De 1997 a 2010, o Ministério das Comunicações pôs à venda 1.872 concessões de rádio e 109 de TV. Licitações analisadas pela reportagem foram arrematadas por valores de até R$ 24 milhões.
Também não existem dados oficiais atualizados sobre as licitações disponíveis para consulta. As informações do ministério deixaram de ser atualizadas em 2006.
Para chegar aos donos das empresas, a Folha cruzou informações fornecidas pelo governo com dados de juntas comerciais, cartórios, da Anatel e do Senado, que tem a atribuição de chancelar as concessões.

EM NOME DE DEUS
Pessoas que admitiram ter emprestado seus nomes dizem que o fizeram por motivação religiosa ou para atender a amigos ou parentes.
Donos, respectivamente, das Rádio 630 Ltda. e Rádio 541 Ltda., João Carlos Marcolino, de São Paulo, e Domázio Pires de Andrade, de Osasco, disseram ter autorizado a Igreja Deus é Amor a registrar empresas em seus nomes para ajudar a disseminar o Evangelho.
Políticos também podem estar por trás de empresas. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, é apontado pelo sócio no papel da Paraviana Comunicações como o real dono da empresa, que comprou duas rádios FM e uma TV em licitação pública.
Em e-mail enviado à Folha, João Francisco Moura disse que emprestou o nome a pedido do amigo Geraldo Magela Rocha, ex-assessor e hoje desafeto de Jucá.
Magela confirmou a versão. O senador foi procurado quatro vezes pela reportagem para responder à acusação, mas não se pronunciou.
O radialista e ex-deputado estadual Paulo Serrano Borges, de Itumbiara (GO), registrou a Mar e Céu Comunicações em nome da irmã e do cunhado. A empresa comprou três rádios e duas TVs por R$ 12,7 milhões e, em seguida, as revendeu.
Borges disse apenas que usou o nome da irmã por já ter outras empresas em seu nome, sem dar mais explicações. E que revendeu as concessões por não ter dinheiro para montar as emissoras.
Chama a atenção o fato de que algumas concessões são adquiridas com ágio de até 1.000%. Empresários do setor ouvidos pela Folha dizem que as rádios não são economicamente viáveis pelos valores arrematados. O setor não tem uma explicação comum para esse fenômeno.
A rádio de Bilac (SP), por exemplo, foi vendida por R$ 1,89 milhão, com 1.119% de ágio sobre o preço mínimo do edital. A empresa está registrada em nome de uma cabeleireira moradora de Itapecerica da Serra (SP).

OUTRO LADO

Ministério diz não ter como saber se donos são laranjas

Secretário da pasta diz que investigação cabe à PF e que não há lei que impeça desempregado de abrir uma empresa

DO RIO

O secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, Genildo Lins de Albuquerque Neto, diz não ter meios de identificar se os nomes que aparecem nos contratos sociais das empresas são laranjas ou proprietários de fato, e que essa é tarefa para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal.
"Seria preciso quebrar o sigilo fiscal da empresa e dos sócios e fazer escuta telefônica para saber se há um sócio oculto por trás dos proprietários declarados", afirmou.
Alega ainda que não pode contestar a veracidade de documentos emitidos por instituições de fé pública, como os cartórios e as juntas comerciais que registram os contratos das empresas.
"Não há lei que impeça um soldado, um desempregado ou um funcionário público subalterno de abrir empresa. Não tenho como obrigá-los a comprovar, antes da licitação, se têm ou não o dinheiro para pagar a concessão."
A prioridade, segundo o secretário, é colocar em dia os processos de concessão atrasados -após a licitação há um longo caminho até a aprovação definitiva.
Ele prometeu zerar o estoque de rádio e TV acumulados no prazo de um ano e meio. Até lá, está suspensa a abertura de novas licitações.
"Entre a licitação pública de venda da concessão e a emissão de licenciamento da emissora há uma via crucis administrativa. Os procedimentos são lentos e burocratizados. Cada processo passava três vezes pelo gabinete do ministro até a aprovação da outorga. A partir de agora, só irá ao ministro uma vez."
Ele avalia que os editais de licitação foram malfeitos e deixaram brechas para as empresas adiarem o pagamento das outorgas e a assinatura dos contratos.

ATRASOS
Os processos de concessão se arrastam por mais de dez anos. Cerca de 890 licitações feitas entre 1997 e 2001, no governo Fernando Henrique, ainda não foram concluídas.
Licitações feitas até 2002 juntavam concessões em diversos locais num só edital. Como as empresas disputavam em regiões diferentes, quando um candidato era inabilitado em uma delas, os demais processos paravam.
Mesmo com os processos se acumulando, novas licitações foram abertas, agravando o problema. Em 2000 e 2001, sem ter concluído licitações anteriores, o ministério pôs à venda 1.361 concessões. Até hoje, 40% desses processos viraram contratos.
Não foi criado um filtro que impedisse o candidato de vencer mais concessões do que o limite legal. A legislação diz que nenhuma empresa ou acionista pode ter mais de seis rádios FM, quatro AM e dez geradoras de TV comercial em todo o país.
Há casos de empresas e pessoas físicas declaradas vencedoras de mais concessões do que o permitido.
Também há problemas com prazos. O ministério teria dez dias, a contar da aprovação no Congresso, para convocar o vencedor, e 60 dias para assinar contrato de concessão. Há 336 processos aprovados pelo Congresso sem assinatura do contrato de concessão.
(ELVIRA LOBATO)

"Só dei o meu nome para a igreja arrumar emissoras", diz evangélico

Sócio de rádio, Domázio diz não ter dinheiro para pagar concessão DA ENVIADA A OSASCO (SP)

O evangélico Domázio Pires de Andrade, 74, vive da pensão de um salário mínimo numa casa humilde em terreno público invadido.
No papel, é sócio da empresa Rádio 541 Ltda., com Antonio Ribeiro de Souza, ex-vice-presidente da Igreja Deus é Amor. A empresa comprou quatro rádios em Minas, por R$ 200 mil. Após trabalhar por 24 anos na igreja, Domázio foi demitido e aderiu à Clamor dos Fiéis.
A direção da Deus é Amor não quis falar sobre o registro de empresas em nome de fiéis. (EL)


Folha - O senhor é dono da empresa Rádio 541 Ltda.?
Domázio Pires de Andrade - Só dei meu nome para a igreja arrumar emissoras.

Quem lhe pediu o nome?
A direção da igreja.

O senhor tem recursos para pagar as concessões?
De jeito nenhum.

De onde virá o dinheiro?
Disseram para eu não me preocupar. A igreja arca com toda a responsabilidade.

O senhor sabe qual é a situação atual de sua empresa?
Não tenho ideia. Todos os documentos ficaram no departamento jurídico.

O senhor vai reclamar a propriedade das rádios?
De maneira alguma. Dei minha palavra.

Por que saiu da Deus é Amor?
Me mandaram embora há cinco anos, porque eu estava de idade (velho). No início, eu vivi da ajuda dos meus amigos. Depois, fui para a Justiça do Trabalho. Na semana passada, eles me ofereceram R$ 3.000, e aceitei.

VÍDEO DA FOLHA SOBRE A MATÉRIA:
http://www.youtube.com/watch?v=EQT79c-GACk&feature=player_embedded

sexta-feira, 25 de março de 2011

As concessões de rádio e TV passam por enormes burocracias


Para que uma emissora de rádio ou TV funcione de forma legal no Brasil , precisa-se de uma "concessão". Mas o que é essa "concessão"? É uma permissão de funcionamento dada pelo Governo Federal. Essa permissão pode ser, por exemplo, de 10 anos para o rádio e de 15 para TV, prorrogável ou não sempre que acaba o prazo. No Congresso Nacional, a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática é a responsável pela concessão das licenças de funcionamento das emissoras de rádio e TV.
A burocracia envolvida dificulta ou até mesmo impede alguém de conseguir montar uma rádio ou televisão no nosso país. Apesar de que, não deve ser tão fácil conseguir essas coisas em país algum.
Comunicação é algo de importância estratégica para a maioria das nações. A burocracia criou atalhos para a intervenção dos políticos, explica Venício Lima. “Na rádio comunitária, por exemplo, para se conquistar a outorga, os interessados têm que reunir uma pilha de documentos e percorrer um labirinto que começa no Ministério das Comunicações, passa pelo Palácio do Planalto e atravessa diversas comissões na Câmara e no Senado até chegar ao Diário Oficial. Em 2002, o fim das delegacias regionais do ministério transferiu para Brasília o início do processo, que acontecia nas regiões de origem das rádios”.
No papel as dificuldades existem para todos, mas na prática, essa dificuldade restringe-se sempre aos pequenos.

Por: Cleyton Douglas

sábado, 19 de março de 2011

Quando a compreensão chega ser ofuscante


Ao ver o quadro ao lado exposto pela primeira vez, foi exatamente quando elaborava um trabalho para disciplina de “História da Arte” na graduação em Comunicação. Confesso, ter sentindo grande rejeição à primeira vista, uma vez que, sempre fui grande admirador dos trabalhos do pintor Cícero Dias. Recordo-me ainda, das inúmeras tentativas que fiz em vários sites, procurando à mesma obra, na esperança de ter o nome do Cícero Dias, ali, por engano. Mas, porque um sentimento tão forte de rejeição? Afinal, o que eu rejeitava naquele momento, era a criatura (obra), ou criador (artista)?

A partir de então, fui à busca no intuito de refletir, quem construíra esse muro, que de um lado deixou ideias, argumentos, objetos, e do outro, quebra, visão fechada e frustração. “Sonho de uma prostituta”, me parece enaltecer a visão da mulher como objeto sexual, e não chego até esse pensamento, a partir do título da obra, mas sim pela forma despojada e provocativa que a moça “acima” se transfigura, expressão essa totalmente pictórica.

As distorções encontradas em “Sonho de uma prostituta”, soa como frieza e distanciamento de uma razão, ambas desmascarada da existência. Pois, essa realidade do inconsciente, toma projeções que deveras dificultam meus pensamentos.

As figuras me parecem soltas no espaço, é como se assumissem inesperadas posições, com a fusão de algumas imagens. Em uma linha vertical o quadro assume a tactilidade, e me é bastante forte a divisão das cores. O colorido suave e harmonioso adaptado à sua índole pessoal, e, no qual, o verde encontra-se sempre presente, Cícero exibe as imagens, de forma a revelar que o individual e o coletivo estão entremeados.

“Verde é a cor da minha memória.” foi uma citação que Cícero Dias usou bastante em vida, e a fez conhecida até os dias de hoje. Estaria o pintor aludindo aos canaviais de Pernambuco ao retratar o verde na obra citada? Cícero que foi pernambucano por nascimento e ancestralidade usou sua pintura, e em grande parte, fez alusão ao registro das coisas do Nordeste, portanto, não surpreende que uma cor ligada à região se torne um símbolo tão freqüente em sua obra.

Adrenalina, surpresa e expressões faciais, me cobriram nesse percurso, pois não é o papel de uma obra de arte agradar sempre, pois arte é cultura, e esse conceito no campo antropológico, nada mais é que, o modo como indivíduos ou comunidades respondem às suas próprias necessidades e desejos simbólicos.

Entendo que, à obra não se obriga ser entendida e aprovada em princípio particularmente – por qualquer que seja. Sua principal função não é a de passar por portas abertas, mas a de abrir caminhos fechados para uma reflexão, seja positiva ou negativa.

Por esse motivo, o sentimento de rejeição por “Um sonho de prostituta” foi maior do que eu, questões se instauraram no momento, e o processo de subjetividade que é essencial, me permitem dizer isso.

Por: Cleyton Douglas

Concessão pública e comunicação


Em uma sociedade, as enunciações sociais necessárias ao domínio e uso coletivo são tidas como do interesse público. E para que essas enunciações alcancem o maior contingente de indivíduos, foram criados os meios de comunicação, que, privados ou públicos, ganham o direito de funcionalidade através de atos constitucionais determinados pelo Estado. Este direito de funcionalidade é chamado de concessão pública. O que significa dizer que os sinais de freqüências, por exemplo, do Rádio e da TV estão submetidos às leis da comunicação controladas pelo Estado como serviço público; ou seja, não são propriedades privadas. E, nisso, têm por obrigação produzir redes de programas que protejam a democracia e auxiliem os indivíduos na construção da cidadania coletiva.

Desta forma, a sociedade espera que os responsáveis pelos meios de comunicação carreguem em si os princípios racional e sensorial, para que possam realizar o Bem Público. Entretanto (esse que é o problema: o entretanto), estes princípios não são encontrados na maior parte dos meios de comunicação. Que são, em verdade, impérios tirânicos, reacionários e arbitrários. Propagadores da alienação alcunhada de informação e entretenimento. Onde o serviço público aparece como assalto da mente nos ardis das truncagens dos fatos e escamoteação das notícias com interesses particulares (como faz o chefe do JN da Globo, o Bonner-Simpson), principalmente políticos, como fizeram na eleição passada para presidência a Rede Globo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, Veja, a grande mídia (e parte da nanica também) para destruir a candidatura de Lula, em benefício do candidato do capital estrangeiro: Geraldo.

E neste momento, sem pejo algum (o que é pejo?), em nome da defesa da democracia e liberdade de imprensa, deflagram campanha aviltante contra Hugo Chávez, presidente da Venezuela, por ter fechado o canal RCTV (Rede Caracas de TeleVisão) e criado a TVES, canal público. Sem citar em nenhum momento que foi exatamente nos estúdios da tal emissora que se arquitetou o golpe de estado em 2002 para destituir o então presidente (para quem interessar, lê o Blog do Mino Carta ou a Agência Carta Maior). E que, juntamente com as emissoras Globovision, Venevision, Televen, negaram durante 48 horas, para a população, notícias sobre o golpe, apoiado pelo governo americano. Mas as forças militares e a população reconduziram-no ao cargo de presidente. Lá como cá. Ou, cá como lá, concessão pública é monopólio privatista. E liberdade de imprensa eu tenho quando sou eu que te imprenso. Nada de imprensa como disciplina cívica, como pensa o jornalista espanhol/francês Ignácio Romanet.

Texto disponível em:afinsophia.wordpress.com

domingo, 13 de março de 2011

ESTRADAS, PONTES E ATALHOS: o lugar da tecnologia na educação

Por: Cleyton Douglas Vital


QUANDO OS ATALHOS E PONTES SEGMENTAM O CAMINHO
“Em primeiro lugar, preciso deixar claro que a aplicação da tecnologia na Educação impõe uma série de complexidades a se ter em conta na hora de analisá-la, já que não se pode fazer de maneira isolada. Deve-se levar em consideração, entre outras coisas, a capacitação dos docentes – o porquê dessa inclusão hoje, as singularidades da instituição e do projeto que se deseja desenvolver, o desenvolvimento de papéis de mediação, a aprendizagem colaborativa, a aprendizagem genuína -, repensar a proposta didática, o reconhecimento dos sujeitos participantes e do contexto onde o projeto se aplica e os novos entornos comunicacionais”
(EDITH LITWIN).
Ao reler o texto (título deste trabalho), é possível perceber a proposta discursiva adotada pela autora, à mesma vai partir de uma série de constatações realizadas, junto a professores sobre o uso de tecnologias. Não será fácil fazer esse percurso, sem visualizar que neste processo de uso de tecnologias, existe um aglomerado de ações: os caminhos, as pontes e os atalhos, e que em muitas das vezes, precisamos fazer escolhas que refletirá em ações para o futuro.
Nesse seguir em frente, sabe-se que, muitas das vezes será necessário percorrer um caminho, passar uma ponte ou construir um atalho, hora estimulado, outrora desfalecendo, sucessos e insucessos com certeza nos seguirão neste percurso, mas, em meio a esse campo de exercícios e escolhas, quais desses aspectos me farão chegar ao melhor local e ainda estimulado?
A palavra “desafio” no texto resenhado toma uma projeção de grandes infinidades, e que deixa muito claro ao leitor, e de forma bastante coesa, que os desafios são as palavras-chave nessa perspectiva de professor e aluno, ficando então como forma conclusiva desse texto. A autora coloca a grande importância de fazer uso das ferramentas tecnológicas, mas, ainda fala da grande importância de saber aplicá-las.
Muito interessante à questão apontada pela autora sobre o uso da tecnologia parecer estar mais associada a uma tecnologia que controla ou disciplina que uma boa ferramenta de ensino. Seja pelo seu uso estar atrelada à facilidade em repasse de conteúdos, seja para “dinamizar” a aula, seja para quebrar a monotonia ou para resolver um problema na prática docente.
Sendo, portanto, um atrativo adicional. Como solução ela aponta a utilização da tecnologia para além do uso pessoal. Com valorização das práticas educacionais que enfatizem e procurem responder aos aspectos cognitivos e não somente os meramente tecnológicos. Uma vez que hoje se faz necessário a formação do cidadão, com capacidade de domínio das novas linguagens, bem como o estabelecimento, com prioridade, do desenvolvimento integral do homem e sua inserção crítica no mundo em que se vive.

O USO DA TECNOLOGIA COMO PREMIAÇÃO SEM MERO VALOR

Não é bom que se façam uso da tecnologia como premiação sem mero valor, um exemplo prático que Litwin faz nessa perspectiva é a seguinte: “se comportou bem eu passo um vídeo, se portar-se mal, eu não passo”, a tecnologia não pode ser usada como fonte de premiação, ou de castigo para com o aluno, na ausência do professor, muitas escolas adotam o seguinte exercício, passa-se um filme, e logo em seguida pede-se um resumo, muitas vezes essa prática se torna inadequada por não estar construída numa metodologia que venha acrescentar conhecimento ao saber do aluno.
Nesse caso, o uso da tecnologia parece ser mais associado, a uma tecnologia que controla ou disciplina como citado a cima, para um bom ensino a ferramenta, e que nessa proposta, a ferramenta inclui punição, premiação ou apenas entretenimento, em uma proposta educativa de pouco valor.
Moran diz que no mundo existe uma preocupação muito grande com ensino de qualidade, e que o mesmo, é o simples conhecimento próprio das matérias, e essa preocupação é bem mais do que com a educação de qualidade, onde a mesma além de ensinar, tem o compromisso de integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação conceitos muito importantes já que para o mesmo, educar é ajudar integrar todas as dimensões da vida.
Para Litwin as tecnologias podem ser vistas como ferramentas de apoio ao professor em suas atividades práticas, ou como processos de ensino aprendizagem, mas pode-se observar que, a autora mostra uma dependência dessas práticas com a tecnologia, e em outra situação, ela ainda associa à tecnologia a disciplina. No mais, essa segunda deveria ser mais adotada pelas instituições de ensino como um processo facilitador, para que o professor pudesse ultrapassar os muros da escola, as dificuldades existentes, e passar a desenvolver o conteúdo mais próximo da realidade.
Diante das manifestações realizadas durante o processo de ensino, o engajamento da tecnologia a este processo, traz novas possibilidades de mudanças na forma de aprendizagem, onde o professor passa a ser mediador deste conhecimento, proporcionando aos alunos um pensamento reflexivo, a respeito das temáticas postas em sala, com uma nova roupagem, sendo mais atraente a percepção destes.

A TECNOLGIA COMO PROPOSTA PEDAGÓGICA

Assim é perceptível que, não importa qual tipo de tecnologia seja trabalhado em sala, o que importa, é que esta não só seja vista como ferramenta, mas como processo, dentro das manifestações e expectativa, que ela e o professor mediador criem, mas que esta tecnologia seja imprescindível na forma de aprendizagem, fazendo esta ponte ou caminho para a construção do ensino.
Com visão humanística Paulo Freire diz que, não se pode pensar o processo educativo sem a conscientização do educando de sua inserção nestes contextos. Fica a critério do educador seu modelo de pensamento, seria melhor uma aula produtiva com todos os sujeitos interagindo, ou um contexto monótono padronizado, onde a incapacidade ou a limitação responda por esse processo?
A simplicidade gera humildade, e nesse processo conturbado, reconhecer e se mostrar adaptável as novas deixas, me refiro às novas tecnologias, que só resultaram numa fusão amigável: tecnologia x educador = crescimento do aluno.
Então, pensar o processo educativo com a inclusão das ferramentas tecnológicas é refletir um mundo totalmente complexo e cheio de surpresas, ficaria impossível planejar esse caminho sem a ajuda dos atalhos e pontes, e se falamos de complexidade, democratizar os meios sempre será a melhor escolha para se chegar a uma educação de qualidade.
É preciso pensar a tecnologia como recurso pedagógico, sem dúvidas, o aluno passará de simples decorador à protagonista de uma realidade vivida e necessária.

A era das wikirrevoluções

Por Jordi Rovira em 8/3/2011

Os meios de comunicação passaram semanas centrando sua atenção na Tunísia no Egito. As insurreições populares que se desenvolveram após o sacrifício do jovem tunisiano Mohamed Bouazizi terminaram em poucos dias com a ditadura de Ben Ali e, na sequência, como peças enfileiradas de dominó, com a "presidência" de Hosni Mubarack. Abriram-se processos democráticos em ambos os países. Manifestantes também saem às ruas árabes na Líbia, Iêmen, Argélia, Jordânia, Bahrein e Omã.

Em todos esse processos, as novas tecnologias jogam um papel chave primordial – em especial, as redes sociais, que permitem superar a censura. Ante esse desfecho histórico, Manuel Castells, catedrático sociólogo e diretor do Instituto Interdisciplinar sobre Internet, na Universitat Oberta de Catalunya, aprofunda a reflexão sob o que se passa e oferece chaves para entender um movimento cidadão que tira o máximo proveito dos novos canais de comunicação ao seu alcance.

A entrevista foi concedida a Jordi Rovira, publicada no portal da Universitad Oberta de Catalunya e reproduzida pelo sítio Outras Palavras, 01-03-2011. A tradução é de Cauê Ameni.

***

Os movimentos sociais espontâneos na Tunísia e Egito pegaram desprevenidos os analistas políticos. Como sociólogo e estudioso da Comunicação, você foi surpreendido pela ação da sociedade-rede destes países, em sua mobilização?

Manuel Castells – Na verdade, não. No meu livro Comunicação e Poder dediquei muitas páginas para explicar, a partir de uma base empírica, como a transformação das tecnologias de comunicação cria novas possibilidades para a auto-organização e a auto-mobilização da sociedade, superando as barreiras da censura e repressão impostas pelo Estado. Claro que não depende apenas da tecnologia. A internet é uma condição necessária, mas não suficiente. As raízes da rebelião estão na exploração, opressão e humilhação. Entretanto, a possibilidade de rebelar-se sem ser esmagado de imediato dependeu da densidade e rapidez da mobilização e isto relaciona se com a capacidade criada pelas tecnologias do que chamei de "auto-comunicação de massas".

Poderíamos considerar estas insurreições populares um novo ponto de inflexão na história e evolução da internet? Ou teríamos que analisá-las como consequência lógica, ainda de grande envergadura, da implantação da rede no mundo?

M.C. – As insurreições populares no mundo árabe são um ponto de inflexão na história social e política da humanidade. E talvez a mais importante das muitas transformações que a internet induziu e facilitou, em todos os âmbitos da vida, sociedade, economia e cultura. Estamos apenas começando, porque o movimento se acelera, embora a internet seja uma tecnologia antiga, implantada pela primeira vez em 1969.

Uma predisposição ideológica

A juventude egípcia desempenhou um papel chave nas insurreições populares graças ao uso das novas tecnologias. No entanto, segundo os cálculos de Issandr El Amrani, analista político independente no Cairo, apenas uma pequena parte da população egípcia dispõe de acesso à internet. Pensa que esta situação pode criar uma brecha – usando suas próprias palavras, entre "conectados" e "desconectados" – ainda maior que a que se dá nos países desenvolvidos?

M.C. – O dado já está antiquado. De acordo com uma pesquisa recente (2010), da empresa informação Ovum, cerca de 40% dos egípcios maiores de 16 anos estão conectados à internet – se levarmos em conta não apenas as ligações domiciliares, mas também os cibercafés e os centros de estudo. Entre os jovens urbanos, as taxas chegam a 70%. Além disso, segundo dados recentes, 80% da população adulta urbana esta conectada por celulares. E de qualquer maneira, estamos falando de um país com 80 milhões de habitantes. Ainda que apenas um quarto deles estivessem conectados, já poderia haver milhões de pessoas nas ruas. Nem todo o Egito se manifestou, mas um número de cidadãos suficiente para que se sentissem unidos e pudessem derrotar o ditador.

A história da brecha digital em termos de acesso é velha, falsa hoje em dia e rabugenta. Parte de uma predisposição ideológica de certos intelectuais interessados em minimizar a importância da internet. Há 2 bilhões de internautas no planeta, bilhões de usuários de celulares. Os pobres também têm telefones móveis e existem ainda outras formas de acessar a internet. A verdadeira diferença se dá na banda e na qualidade de conexão, não no acesso em si, que está se difundindo com rapidez maior que qualquer outra tecnologia na história.

Cohn Bendit era símbolo, não um líder

Até que ponto o poder dispõe de ferramentas necessárias para sufocar as insurreições promovidas desde a rede?

M.C. – Não as tem. No Egito, inclusive, tentaram desconectar toda a rede e não conseguiram. Houve mil formas, incluindo conexões fixas de telefone a número no exterior, que transformavam automaticamente as mensagens em tweets e fax no país. E o custo econômico e funcional da desconexão da internet é tão alto que tiveram que restaurá-la rapidamente.

Hoje em dia, um apagão da rede é como um elétrico. Ben Ali não caiu tão rápido, houve um mês de manifestações e massacres. O Irã não pode se desconectar a rede: os manifestantes estiveram sempre comunicando-se e expondo suas ações em vídeos no YouTube. A diferença é que ali, politicamente, o regime teve força para reprimir selvagemente sem que interviesse o exército. Porém as sementes da rebelião estão plantadas e os jovens iranianos, 70% da população, estão agora maciçamente contra o regime. É questão de tempo.

A mobilização popular através dos meios digitais criou heróis da cibernética no Egito – como Weal Ghonim, o jovem executivo do Google. Que papel podem desempenhar esses novos lideres no futuro de seus países?

M.C. – O importante das "wikirrevoluções" (as que se auto-geram e se auto-organizam) é que as lideranças não contam, são puros símbolos. Símbolos que não mandam nada, pois ninguém os obedeceria e eles tampouco tentariam impor-se. Pode ser que, uma vez institucionalizada, a revolução coopte se algumas destas pessoas como símbolos de mudanças – ainda que eu duvide muito que Ghonim queira ser político. Cohn Bendit era também um símbolo, não um líder. Foi estudante e amigo meu em 68. Ele era um autêntico anarquista: rechaçava as decisões dos líderes e utilizava seu carisma (foi o primeiro a ser reprimido) para ajudar a mobilização espontânea. Walesa foi diferente, um vaticanista do aparato sindical. Por isso, tornou-se político rapidamente. Cohn Bendit tardou muito mais e ainda assim é, fundamentalmente um verde, que mantém valores de respeito às origens dos movimentos sociais.

72% dos chineses apoiam o governo

A aliança entre meios de comunicação convencional e novas tecnologias é o caminho a seguir no futuro para enfrentar com êxito os grandes desafios?

M.C. – Os grande meios de comunicação não têm escolha. Ou se aliam com a internet e com o jornalismo cidadão, ou irão se marginalizando e tornando-se economicamente insustentáveis. Mas hoje, essa aliança ainda é decisiva para a mudança social. Sem Al Jazira não teria havido revolução na Tunísia.

Em um artigo intitulado "Comunicação e Revolução", você recordou que em 5 de fevereiro a China havia proibido a palavra Egito na internet. Acredita que existem condições para que possa ocorrer, no gigante asiático, um movimento popular parecido com o que está percorrendo o mundo árabe?

M.C. – Não, porque 72% dos chineses apoiam seu governo. A classe média urbana, sobretudo os jovens, estão muito ocupados enriquecendo-se. Os verdadeiros problemas do campesinato e operários – ou seja, os verdadeiros problemas sociais da China – encontram se muito longe. O governo resguarda-se demais porque a censura antagoniza muita gente que não está realmente contra o regime. Na China, a democracia não é, hoje, um problema para a maioria das pessoas, diferente do que ocorria na Tunísia e no Egito.

Os EUA consideram prioritária a ciberguerra

Esse novo tipo de comunicação, globalizada, atomizada e que se nutre da colaboração de milhões de usuários, pode chegar a transformar nossa maneira de entender a comunicação interpessoal? Ou é apenas uma ferramenta potente a mais à nossa disposição?

M.C. – Já transformou. Ninguém que está inserido diariamente nas rede sociais (este é o caso de 700 dos 1,2 milhões de usuários) segue sendo a mesma pessoa. Mas não é um mundo esotérico: há uma inter-relação online/off-line. Como esta comunicação mudou, e muda a cada dia, é uma questão que se deve responder por meio de investigação acadêmica, não através de especialistas em fofocas. E por isso empreendemos o Projeto Internet Catalunha na UOC.

Podemos dizer que os ciber-ataques serão a guerra do futuro?

M.C. – Na realidade, esta guerra já faz parte do presente. Os Estados Unidos consideram prioritária a ciberguerra. Destinaram a este tema um orçamento dez vezes maior que todos os demais países juntos. Na Espanha, as Forças Armadas também estão se equipando rapidamente na mesma direção. A internet é o espaço do poder e da felicidade, da paz e da guerra. É o espaço social do nosso mundo, um lugar híbrido, construído na interface entre a experiência direta e a mediada pela comunicação e, sobretudo, pela comunicação na internet.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Uma historinha sobre liberdade de imprensa

POr:Ivan Moraes Filho

O carnaval já estava praticamente na rua quando a história estourou nas páginas do Jornal do Commercio da quinta-feira anterior à folia. Dizia a matéria que um jornalista da empresa havia sido interrogado por coronéis da corregedoria da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. Os de farda queriam saber a fonte de uma série de reportagens que denunciavam irregularidades no Corpo de Bombeiros. Um absurdo que viola não só a Constituição Brasileira, mas também diversas normativas internacionais. O sigilo da fonte é um direito de quem tem o dever de informar a população e faz parte dos preceitos da liberdade de imprensa.

Não demorou para que a sociedade civil se movimentasse. O Movimento Nacional dos Direitos Humanos foi o primeiro a encabeçar uma nota pública repudiando o fato. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco também divulgou posicionamento similar. Na mesma tarde foi marcada uma entrevista coletiva em que não só entidades ligadas ao MNDH e SinjoPE estiveram presentes, mas também a Ordem dos Advogados de Pernambuco e o próprio JC fez-se representar através de seu diretor de redação Ivanildo Sampaio. O objetivo: mais uma vez repudiar a ação dos coronéis e informar sobre a intenção de notificar o caso à ONU e à OEA.

Da coletiva, as entidades partiram para o palácio do governo para reunir-se com o secretário do Gabinete Civil Tadeu Alencar. Já nesse encontro, a notícia: estava exonerado o coronel Siqueira de Souza, corregedor-auxiliar que comandava o inquérito. Também caiu o coronel Frederico Malta, que participou da sindicância. Um acerto do Governo do Estado e mais que tudo uma vitória dos grupos que lutam todos os dias pela liberdade de imprensa.

Durante o dia inteiro, essa movimentação foi amplamente divulgada através das redes sociais, de blogs independentes e de veículos do próprio Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC). Rádio Jornal, CBN, Jornal do Commercio, JCOnline e TV Jornal, todos pertencentes ao mesmo grupo, estiveram na coletiva de imprensa e divulgaram tudo. O constrangimento, a ação da sociedade civil, o afastamento do coronel. Tudo.

E desde já pode-se perceber que ainda estamos longe de ter um jornalismo realmente livre, em que cada profissional exerce seu direito (e dever) de publicar/veicular aquilo que realmente acredita ser notícia. Isso porque na mídia tradicional pernambucana, apenas um conglomerado viu-se na obrigação de divulgar que um jornalista havia sido interrogado sobre sua fonte. Apenas este noticiou a movimentação da sociedade civil sobre o caso. Somente este grupo, diretamente envolvido, considerou relevante a notícia da exoneração de um corregedor por considerar sua conduta equivocada diante do repórter.

A Rede Globo não acompanhou o processo de perto nem enviou equipe para apurar a pauta, mas obteve informações para divulgar uma nota e uma pequena matéria em seu site de notícias.

Nos Associados (Diario de Pernambuco, TV Clube, Rádio Clube, Pernambuco.com), nada. Nem na sexta, nem no sábado – quando tradicionalmente os jornais falam praticamente apenas de carnaval. Concorrente direto do JC, talvez a chefia do DP tenha se esquivado para não ter que citar o nome de seu adversário nas bancas. A Folha de Pernambuco/Rádio Folha também não interessou-se pelo assunto.

Quer dizer, difícil afirmar que não houve interesse. Que ninguém nos supracitados jornais tenha pensado em correr atrás da matéria. Um fato como este não agride apenas o jornalista ou o jornal em que ele trabalha, mas todos os profissionais, empresas e entidades que têm a comunicação como finalidade.

Não é todo dia que um jornalista é coagido a entregar sua fonte. Também não é todo dia que um corregedor de polícia é exonerado por má conduta. A grande pergunta é: nas reuniões de pauta, o assunto surgiu? Como – e com que argumentos – a pauta caiu na Folha e no DP?

Liberdade de imprensa é o conjunto de direitos que jornalistas têm para que exerçam sua função sem mordaças ou constrangimento. Violações a esta liberdade nem sempre vêm de governos. Muitas vezes os obstáculos podem estar dentro das próprias redações, como parece ter acontecido dessa vez.

E se fosse o contrário? Se o episódio tivesse acontecido com um jornalista do Diario? Será que os Associados cobririam? Claro que sim.

Mas e o JC? Permitiria que seus repórteres escrevessem e falassem sobre o caso?

Na história recente do jornalismo pernambucano, o SJCC foi protagonista de alguns episódios de violação da liberdade de imprensa, como da demissão de Cícero Belmar, em 2005; na prisão de Marcelo Tavares de Melo, em 2007 e em 2009, quando o colunista Inaldo Sampaio perdeu o emprego por discordar do patrão.

Dessa vez, quando optou por defender seu profissional, o Sistema esteve do lado de quem luta pelo direito à comunicação. Que permaneça.

Texto extraído de: www.ombudspe.org.br

domingo, 6 de março de 2011

Pernambuco Rural populariza conhecimento científico da UFRPE pelas ondas do rádio


Difundir, divulgar e popularizar a ciência, tecnologia e cultura pelas ondas do rádio. Esses são os objetivos maiores do programa Pernambuco Rural, iniciativa da Unidade Acadêmica de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAG/UFRPE), por meio de uma parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O programa, que tem uma hora de duração, vem sendo exibido nas Rádios Universitárias AM (820 Khz) e FM (99.9 Mhz) da UFPE: na primeira, é veiculado às 6h, aos domingos; na segunda, às 9h das terças-feiras.

De acordo com a professora Lucilene Simões, do curso de Medicina Veterinária da UAG, que também é apresentadora do programa, o Pernambuco Rural visa levar ao produtor rural informações sobre o manejo de suas propriedades de forma sustentável além, é claro, de dar maior visibilidade à comunidade não acadêmica dos trabalhos de pesquisa e extensão desenvolvidos pela UFRPE. Dessa forma, o Pernambuco Rural busca estimular uma rede de troca de experiências entre pesquisadores e os produtores a partir da comunicação.

Para saber mais, visite o site: www.ufrpe.br

Texto extraído do site da UFRPE

Convenção Americana de Direitos Humanos - 1960


"Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Este direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e idéias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha".

PORÉM...

“(...) o exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para assegurar: o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas; (...)”

Educação x Comunicação = Educomunicação


Estudos sobre comunicação e educação com foco no uso das novas tecnologias buscam a criação de conhecimentos que estimulem relações de ensino-aprendizagem através do uso de meios de comunicação na educação presencial, nas instituições de ensino. Trata-se de uma linha de estudos que está em expansão e que tem trazido contribuições significativas para a compreensão desse cenário, mas que ainda possui desafios a serem estudados. Em meio a esse leque de informações, existem relatos de experiências que deram certo, na convergência dessas duas linhas de estudo, realizadas fora das instituições formais de ensino que utilizam os meios de comunicação como instrumentos educacionais.
Quando falamos na junção de educação e comunicação, ou, educomunicação, falamos de um campo de pesquisa, de reflexão e de intervenção social, cujos objetivos, conteúdos e metodologia são diferentes da educação escolar e da comunicação social, mas que juntos transformam realidades e saberes das juventudes nos espaços informais de ensino.

A coletividade é força


Uma só voz nada termina e nada resolve. Duas vozes são o mínimo de vida, o
mínimo de existência.

(BAKHTIN, 2005, p. 257)

sábado, 5 de março de 2011

Quem disse que Paulo Freire só pregou educação?


Para Paulo Freire “a educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” Extensão ou Comunicação? (2002, p. 69). Ele fala de uma educação que liberta da opressão, seja ela, social, política, econômica, cultural ou ideológica.

Por: Cleyton Douglas

Decidindo o que é notícia


Resenha crítica do livro: Decidindo o que é notícia do professor Vizeu, UFPE

Uma das principais características do jornalismo no Brasil é a manipulação da informação que resulta na dominação da realidade. De acordo com teorias ligadas ao campo jornalístico, os profissionais inseridos no sistema midiático deveriam trabalhar sob a ótica da isenção e da objetividade de modo a garantir pluralidade e diversidade de opiniões na sociedade.
Porém, ao se autodenominar formadora e porta-voz da opinião pública em meio a uma realidade história construída sob ilegalidades, a mídia no Brasil sufoca as diferentes visões, elimina o pensamento crítico e, consequentemente, suprime a democracia.
Em Decidindo o que é notícia: Os bastidores do telejornalismo, o professor e jornalista Alfredo Vizeu, ao analisar as rotinas de produção de alguns telejornais do País, observa que os meios de comunicação seguem uma lógica distinta da responsabilidade social e do compromisso com o público – princípios que deveriam nortear a atividade e a dignidade moral do profissional ligado à atividade jornalística. Na verdade, incorporada a lógica político-econômica, a mídia satisfaz os interesses e perpetua os privilégios de poucos, violando, dessa forma, os direitos da maioria.
Em seu livro, Vizeu destaca que no Brasil a relação capitalista entre informação e mediação fez surgir uma dependência mercadológica responsável por subordinar a mensagem à política editorial da empresa. Dessa forma, citando o jornalista e estudioso Ciro Marcondes Filho, o autor aponta as atuais características da informação transmitida com base nesse pressuposto:
“Notícia é a informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais, sensacionais; para isso, a informação sobre um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização, padronização, simplificação e negação do subjetivismo”. (VIZEU, p.69).
A ausência/ineficiência de uma legislação contribui com essa realidade ao propiciar a propriedade privada e sustentar a concentração do sistema de mídia nas mãos de políticos e empresários preocupados com a manutenção do status quo. Tendo os políticos como os principais concessionários de rádio e televisão, os setores especializados na produção de informação respondem somente aos interesses dessa categoria, ou melhor, aos interesses particulares do proprietário da empresa em detrimento às responsabilidades frente à sociedade.

Por: Cleyton Douglas

É aquela velha história... O meu direito termina quando começa o do próximo Hehehe


“O exercício da liberdade de expressão não pode violar outros Direitos Humanos”...

Ainda bem que o sol e a lua se entendem

Resenha Crítica do filme Um Lugar ao Sol

Em Um lugar ao sol, o diretor pernambucano Gabriel Mascaro apresenta o desafio com a quebra de alguns paradigmas de filmes brasileiros e ainda sim, apimentar o mundo da high society, tão pouco explorado. O longa-metragem teve o embasamento de um livro que narra pessoas influentes na sociedade brasileira. Nele estão catalogados depoimentos de 125 proprietários de coberturas de luxo no Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, onde, desse aglomerado, apenas nove moradores concordaram em dar depoimentos para o documentário.
Um lugar ao sol permite um debate sobre visibilidade, poder, insegurança, status e a presença, cada vez mais forte, de uma paisagem vertical. Além disso, procura investigar o momento em que a busca por esse tipo de moradia deixa de ser apenas realização de um sonho para ser uma necessidade, vendida diariamente pelas construtoras.
O poder de ter money, desejo e reconhecimento se entrelaça com a realidade de uma classe que no filme se representa nas pessoas ouvidas – sorrisos e comentários chegam a causar azia. "É muito bom estar por cima e quem não gostaria de ter essa visão privilegiada, sem contar que me afasto da violência, do barulho, e do caos"; "Bonito mesmo é ver as balas coloridas". Chega a ser engraçado. Desgraçado é ver o ser humano ter que se proteger dos tiros de fuzis que, diferente das balinhas coloridas, causam cicatrizes eternas. Onde está o sentido dessa comparação? Nem mesmo um sal de frutas para aliviar tanto queimor. Hahaha...
Quem está mais alto é o morador de favela
Chega a ser engraçado ouvir um personagem dizer que "frequenta os melhores hotéis e restaurantes...", ver também uma senhora cujo amigo fiel é um animalzinho empalhado e seu nome é Bush. Seu filho remete a uma versão do burguês industrializado. Ouvir um rapaz dizer que "as pessoas me chamam de playboy, mas meus pais trabalharam muito para eu estar aqui" e a uma mãe chamar o filho já adulto de adolescente são cenas que funcionam muito mais como uma ficção bizarra e cômica do que algo advindo de alguma relação mais complexa e ponderada com o real. Na ficção, tudo bem; no documentário, nem tanto: ainda que a ponte entre ambos seja uma linha ou ainda inexistentes de vários pontos de vista, no que tange à ética, ela me parece bastante clara.
No documentário, Mascaro acaba atribuindo aos entrevistados contribuição com a desigualdade social. Precauções foram tomadas para proteção dessas pessoas; uma delas foi o direito de não terem seus nomes divulgados, exigência feita pelos entrevistados. Mas, valho-me aqui, do seguinte ditado: "Uma imagem vale mais que mil palavras". E quando essas imagens têm conteúdos preocupantes, já se viu.
Para Mascaro, residir em coberturas é principalmente uma questão de classes. Mas, o maior desconforto do discurso de classes dentro da arte é tentar associar espaço e posição social. Afinal, de que elite Gabriel Mascaro está falando? No longa-metragem, não existe a percepção de que em grande parte das cidades brasileiras, quem está mais alto, definitivamente, é o morador de favela, o que por si só torna mais difícil entender a fragilidade do tema, com a associação de espaço e posição social. Assim, logo seu objetivo estaria desconstruído. Afinal, não poderíamos chamar de elites moradores residentes em altas favelas?
Risadas, indignação, subjetividade...
É certo, sempre que o vídeo for exibido cada telespectador terá sua relação subjetiva, política e ética com as possíveis falas, ressalto aqui, nenhum incômodo ao ver ridicularizadas pessoas como o dono de uma famosa boate de prostituição luxuosa, homem que não tem respeito algum ao fazer analogias, com as diferentes classes sociais, comparando a terceira classe de um avião com uma senzala e expondo assim suas ideias, com orgulho do que elas representam.
Deslizando-me com veemência nas imagens feitas nas praias, logo sinto que a leveza e a liberdade são privadas por alguns instantes. As sombras projetadas por oito edifícios passam a ideia de autoridade e poder. Se no momento for considerável uma analogia, o gigante Golias e o pequeno David, representaria bem esse contexto.
Entre risadas, indignação, subjetividade... Saí de Um lugar ao sol relembrando questões problemáticas da violência urbana, o que não é novidade, e sim, um (clichê), e em meio a tantas falas, não restou momento que permitisse uma reflexão mais aprofundada do que realmente se queria com o produto.
De tudo isso, fica uma certeza. Bom seria que as pessoas aprendessem a exercitar o que diz um trechinho da música "O lugar ao sol" do Charlie Brown Jr: "Nossas vidas, nossos sonhos têm o mesmo valor". Se assim o fizessem, o sol, brilharia bem mais forte.

Por: Cleyton Douglas

Comunicação é direito humano


O direito à comunicação é um dos pilares centrais de uma sociedade democrática. Assumir a comunicação como um direito humano significa reconhecer o direito de todas as pessoas de ter voz, de se expressar. Significa reconhecer a comunicação como um direito universal e indissociável de todos os outros direitos fundamentais.
O direito à comunicação é mais do que a liberdade de expressão e o direito à informação: é o direito de todas as pessoas de ter acesso aos meios de produção e veiculação de informação, de possuir condições técnicas e materiais para ouvir e ser ouvida, de ter o conhecimento necessário para estabelecer uma relação autônoma e independente frente aos meios de comunicação.
Se comunicação é um direito, é preciso que haja a permanente busca por garanti-lo. Portanto, enquanto há impeditivos (sejam eles sociais, políticos, econômicos ou técnicos) para a realização plena desse direito, é dever e papel do Estado à promoção da pluralidade, da diversidade e da luta constante pela superação dessas desigualdades.

Mas o que isso significa na prática?

Significa não aceitar como fato consumado a atual concentração da mídia, em que apenas nove famílias controlam jornais, revistas e emissoras de rádio e TV. Enquanto esses poucos usam concessões públicas para fins comerciais, 180 milhões de pessoas são privadas de sua liberdade de expressão. Significa impedir, como prevê a Constituição, qualquer forma de concentração dos meios de comunicação, como a propriedade cruzada, em que uma mesma empresa é dona de diferentes veículos, como TV, Rádio e jornal na mesma localidade.
Significa lutar para que rádios comunitárias sejam estimuladas, e não combatidas. Não é aceitável que se trate como crime o exercício de um direito. Significa trabalhar pela construção de um sistema público de comunicação, em que haja emissoras públicas fortes, geridas e financiadas com independência tanto em relação aos governos quanto ao setor privado. Significa garantir que a única influência sobre a formulação e implementação das políticas públicas no campo da comunicação seja o interesse público. Significa promover com afinco a diversidade cultural, apoiando a produção e a veiculação de conteúdo regional, combatendo os preconceitos e distorções na forma que a mulher, o negro, o homossexual, e tantos outros e outras são retratados pela mídia.Significa defender o controle público da comunicação, (o que não se confunde com censura), para garantir que as concessões públicas sejam usadas em nome do interesse público. Assim, a realização de conferências e a criação de conselhos e de outros espaços públicos de participação popular, como já acontece na área da Saúde, significam o amadurecimento da democracia.
Texto extraído do intervozes.org.br

Resistência do mau gosto vira fácil aceitação na grande massa

Quem nunca ouviu falar nos shows de brega? Sim, aqueles chamados “bregões”, onde se reúnem os amigos, inimigos e até mesmo as famílias, esses espaços são simplesmente para muitos conhecidos por: “vale tudo”. “Kitara”; “CIA do Calypso”; “Labaredas” entre muitas outras... São algumas das indústrias produtora desse gênero, mas, paro por aqui, se for dá nome a todas as bandas que seguem o ritmo aqui no Estado pernambucano, com certeza, o espaço aqui, seria pequeno. Mas, o que fazer quando esses shows de sensualidade extrema e de música vulgarizada são servidos para todo o público em geral, e em qualquer horário?
Para o processo de comunicação ser realizado, é necessário que haja dois personagens no cenário proposto, o emissor (que passa a informação) e o receptor (que a recebe). Mas para que haja entendimento entre um indivíduo e o outro, é preciso que se estabeleça a mensagem, que vai ser o elemento crucial nesse processo. No processo comunicacional, existem interferências e as mesmas podem ser chamadas de ruídos, e uma melodia mal estruturada, tem o mesmo sentido.
Formular ações, segmentar estratégias e estabelecer as metas é apenas o pulo inicial para o resultado satisfatório do que se espera. A TV exerce um forte poder de conformação na vida do espectador e os conteúdos mal elaborados só fazem com que a sociedade esteja presa a esse círculo, onde o principal foco é o capitalismo e o individualismo, que fazem dos líderes desses veículos, pessoas imbatíveis e sem consciência.
A televisão é um meio eficaz de divulgar a mensagem, a um grande número de pessoas. O problema está em definir que tipo de mensagens, e para quem. Na prática, é qualquer mensagem para qualquer pessoa que esteja em frente ao aparelho. E isto, se torna preocupante, à medida que observamos que grande parte do público que assiste à televisão é formada por crianças e adolescentes, que são, justamente, os indivíduos mais vulneráveis nesse processo.
Quando se trata do universo infantil no que diz respeito aos direitos humanos, o Art. 76 da lei 8.069, do Estatuto da Criança e do Adolescente (2001, p.18) diz que as "emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público infanto-juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas". O Estatuto (2001, p.37) prega ainda que "é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor".
A mídia torna-se indispensável na educação para a cidadania. Como parte da sociedade civil, o Estado tem um papel educativo e político na conquista da cidadania, sobretudo, quando dá visibilidade aos problemas e busca apontar saída.
Embora tenham experimentado uma fase de sucesso até os anos 90, a dita música brega acabou sucumbindo às classificações negativas e gradualmente foi desaparecendo da mídia de massa. Mas nas regiões Norte e Nordeste, o termo resistiu nomeando um estilo musical de inspiração romântica que sobreviveu nas periferias, nas variações brega music, brega pop, calypso ou simplesmente brega.

Por: Cleyton Douglas

O poder da mídia não é nada sem o espectador


Desde seu surgimento a mídia vem exercendo diversos papéis que vão desde informar e desinformar, de vender e comprar, de divertir e comover. Não há dúvidas, entretanto, que – independente de ser concebida para – a mídia amplifica os acontecimentos sociais e, pela sua característica mediadora, transforma o imaginário cultural que, por sua vez, modifica o modo de operar da sociedade, gerando novos conceitos e preconceitos estabelecidos.
Como afirma Edgar Morin (2003), a mídia não inventou o crime nem a violência, mas tornou esses fenômenos mais visíveis. Uma das principais características do jornalismo no Brasil é a manipulação da informação que resulta na dominação da realidade.
De acordo com teorias ligadas ao campo jornalístico, os profissionais inseridos no sistema midiático deveriam trabalhar sob a ótica da isenção e da objetividade de modo a garantir pluralidade e diversidade de opiniões na sociedade. Porém, ao se autodenominar formadora e porta-voz da opinião pública em meio a uma realidade histórica construída sob ilegalidades, a mídia no Brasil sufoca as diferentes visões, elimina o pensamento crítico e, consequentemente, suprime a democracia.
Segundo Bernardo Toro, o que torna um sujeito cidadão “não é ter a carteira de identidade ou título de eleitor, mas a sua capacidade de gerar ou modificar a ordem social, ou seja, asua capacidade de criar liberdade” (TORO, 2005, p.20) Para mim não é surpresa alguma o que escrevo aqui, mas assim o faço.
Entendo que você é livre para fazer suas escolhas, e assim, responder por elas. Sei também que na semana que antecede às eleições, a baixaria na TV será visível e constante, você já parou pra pensar nisso? Eles acham que nosso direito restringe-se ao controle remoto e você?

Por: Cleyton Douglas

A estética do grotesco e o processo crítico


Desde seu surgimento a mídia vem exercendo diversos papéis que vão desde informar e desin¬formar, de vender e comprar, de divertir e comover. Não há dúvidas, entretanto, que – indepen¬dente de ser concebida para – a mídia amplifica os acontecimentos sociais e, pela sua característica mediadora, transforma o imaginário cultural que, por sua vez, modifica o modo de operar da so¬ciedade, gerando novos conceitos e preconceitos estabelecidos. Como afirma Edgar Morin (2003) a mídia não inventou o crime nem a violência, mas tornou esses fenômenos mais visíveis.
Uma das maiores aparições da grande representatividade na massa é a estética do padrão de beleza que, a partir da individualização estabelecida pela lógica de consumo exagerado na pós-modernidade, vem sendo bombardeada na sociedade pela indústria cultural. Partindo do princípio dialógico da complexidade de Edgar Morin que explica que os opostos se confrontam, mas se completam, isto é, que a ambiguidade faz-se necessária, é que discutiremos dois programas de ideias diferentes, mas com o mesmo padrão de beleza que se resume a estética do grotesco que também é amplificada pela mídia em diversos veículos.
Na caminhada do processo crítico à estética do belo, a grade televisiva em Pernambuco apresentam dois personagens híbridos, onde um deles pratica um jornalismo policialesco altamente sensacionalista o “Ronda Geral” e o outro, ao mesmo tempo, em que é belo, é grotesco, pela ideia baseada na história de Cinderela com o “Papeiro da Cinderela”.
Estudiosos enveredaram-se pelo caminho do grotesco, a fim de entender mais afundo esse conceito. Muniz Sodré (1972, p. 38) definiu como “[...] o fabuloso, o aberrante, o macabro, o demente – enfim, tudo que à primeira vista se localiza numa ordem inacessível à “normalidade” humana”. Segundo Bakhtin (1987), o grotesco outrora caracterizado como metamorfósico e ambivalente perdeu seu sentido com as transformações sociais provocadas com o avanço da produção/consumo, restando apenas o grosseiro, a obscenidade, o cinismo, o insulto e, principalmente, a deformidade para compor a estética do grotesco:

[...] o interesse pelo grotesco diminui notavelmente, tanto na literatura, como na história literária. Quando se faz alusão à ele é para relegá-lo às formas do cômico vulgar de baixa categoria, ou para interpretá-lo como uma forma particular de sátira, orientada contra fenômenos individuais, puramente negativos. Dessa maneira, toda a profundidade, todo o universalismo das imagens grotescas desaparecem para sempre.
(BAKHTIN, 1987, p. 39)

Existem vários outros exemplos de grotesco na TV ou de Baixaria, além da representatividade conquistada pela grande audiência e/ou pela crítica, todos esses produtos midiáticos apelam para o humor ou para o dramático.

Por: Cleyton Douglas

O indivíduo na era do clichê


O uso que se fez da TV nas duas guerras do Golfo é realmente apavorante. As "belas" cenas de bombardeio e uma absoluta ausência de sangue conseguiram convencer o público que a guerra é como um videogame. Não é, não! Cada bomba que vimos explodir num ataque norte-americano ao Iraque, Sérvia ou Afeganistão, causou dezenas, centenas, milhares, dezenas de milhares de mortos e mutilados.
Nenhuma guerra foi limpa. Nenhum conflito armado é ou será lindo. Toda guerra produz vítimas inocentes, além do odor nauseabundo de cadáveres insepultos. Na tranqüilidade de nossos lares, não lamentamos pelas vítimas dos bombardeios norte-americanos. Ficamos hipnotizados pela "beleza asseada e ilusória" das imagens feitas pelas próprias bombas e que lembram um videogame.
Contudo, se aquelas mesmas bombas estivessem caindo em nossas cabeças e o espetáculo estivesse sendo assistido em outro país certamente nossa perspectiva da guerra seria outra. Neste particular, a crítica do uso da TV pelos senhores da guerra é essencial e foi feita de maneira competente por Arbex.
"A televisão é um pólo ativo do processo de seleção e divulgação das notícias e também dos comentários e interpretações que delas são feitas. Ela não é mera ‘observadora’ ou ‘repórter’: tem o poder de interferir nos acontecimentos. O tele-noticiário diário adquiriu o estatuto de uma peça política, cuja lógica é determinada pelas relações de cada veículo de mídia com o sistema político, financeiro e econômico do país ou região em que ele se encontra."
A afirmação supra é especialmente verdadeira se considerarmos a cobertura das guerras norte-americanas. Preocupadas em difundir a "beleza asseada e ilusória" das imagens produzidas sob medida pelos militares e as opiniões dos especialistas (eufemismo para militares), as redes de TV endossaram a matança indiscriminada de velhos, mulheres e crianças. Raramente alguém na TV fez qualquer objeção à rígida censura jornalística imposta pelos norte-americanos ou fez a crítica da estética nazista.
Na primeira parte o autor trata ainda do indivíduo na era do clichê, do show de amnésia e memória, de como a televisão contamina a cultura e da ilusão "do fato como ele aconteceu". Na segunda parte o autor faz uma retrospectiva de sua rica experiência como jornalista da Folha de S. Paulo. Mas não vou estragar as agradáveis surpresas que a obra proporciona ao leitor. Encerro aqui esta resenha de Showrnalismo, livro que vale cada centavo de seu preço.

Por: Cleyton Douglas