sábado, 19 de março de 2011

Quando a compreensão chega ser ofuscante


Ao ver o quadro ao lado exposto pela primeira vez, foi exatamente quando elaborava um trabalho para disciplina de “História da Arte” na graduação em Comunicação. Confesso, ter sentindo grande rejeição à primeira vista, uma vez que, sempre fui grande admirador dos trabalhos do pintor Cícero Dias. Recordo-me ainda, das inúmeras tentativas que fiz em vários sites, procurando à mesma obra, na esperança de ter o nome do Cícero Dias, ali, por engano. Mas, porque um sentimento tão forte de rejeição? Afinal, o que eu rejeitava naquele momento, era a criatura (obra), ou criador (artista)?

A partir de então, fui à busca no intuito de refletir, quem construíra esse muro, que de um lado deixou ideias, argumentos, objetos, e do outro, quebra, visão fechada e frustração. “Sonho de uma prostituta”, me parece enaltecer a visão da mulher como objeto sexual, e não chego até esse pensamento, a partir do título da obra, mas sim pela forma despojada e provocativa que a moça “acima” se transfigura, expressão essa totalmente pictórica.

As distorções encontradas em “Sonho de uma prostituta”, soa como frieza e distanciamento de uma razão, ambas desmascarada da existência. Pois, essa realidade do inconsciente, toma projeções que deveras dificultam meus pensamentos.

As figuras me parecem soltas no espaço, é como se assumissem inesperadas posições, com a fusão de algumas imagens. Em uma linha vertical o quadro assume a tactilidade, e me é bastante forte a divisão das cores. O colorido suave e harmonioso adaptado à sua índole pessoal, e, no qual, o verde encontra-se sempre presente, Cícero exibe as imagens, de forma a revelar que o individual e o coletivo estão entremeados.

“Verde é a cor da minha memória.” foi uma citação que Cícero Dias usou bastante em vida, e a fez conhecida até os dias de hoje. Estaria o pintor aludindo aos canaviais de Pernambuco ao retratar o verde na obra citada? Cícero que foi pernambucano por nascimento e ancestralidade usou sua pintura, e em grande parte, fez alusão ao registro das coisas do Nordeste, portanto, não surpreende que uma cor ligada à região se torne um símbolo tão freqüente em sua obra.

Adrenalina, surpresa e expressões faciais, me cobriram nesse percurso, pois não é o papel de uma obra de arte agradar sempre, pois arte é cultura, e esse conceito no campo antropológico, nada mais é que, o modo como indivíduos ou comunidades respondem às suas próprias necessidades e desejos simbólicos.

Entendo que, à obra não se obriga ser entendida e aprovada em princípio particularmente – por qualquer que seja. Sua principal função não é a de passar por portas abertas, mas a de abrir caminhos fechados para uma reflexão, seja positiva ou negativa.

Por esse motivo, o sentimento de rejeição por “Um sonho de prostituta” foi maior do que eu, questões se instauraram no momento, e o processo de subjetividade que é essencial, me permitem dizer isso.

Por: Cleyton Douglas

Nenhum comentário:

Postar um comentário