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sábado, 5 de março de 2011
O indivíduo na era do clichê
O uso que se fez da TV nas duas guerras do Golfo é realmente apavorante. As "belas" cenas de bombardeio e uma absoluta ausência de sangue conseguiram convencer o público que a guerra é como um videogame. Não é, não! Cada bomba que vimos explodir num ataque norte-americano ao Iraque, Sérvia ou Afeganistão, causou dezenas, centenas, milhares, dezenas de milhares de mortos e mutilados.
Nenhuma guerra foi limpa. Nenhum conflito armado é ou será lindo. Toda guerra produz vítimas inocentes, além do odor nauseabundo de cadáveres insepultos. Na tranqüilidade de nossos lares, não lamentamos pelas vítimas dos bombardeios norte-americanos. Ficamos hipnotizados pela "beleza asseada e ilusória" das imagens feitas pelas próprias bombas e que lembram um videogame.
Contudo, se aquelas mesmas bombas estivessem caindo em nossas cabeças e o espetáculo estivesse sendo assistido em outro país certamente nossa perspectiva da guerra seria outra. Neste particular, a crítica do uso da TV pelos senhores da guerra é essencial e foi feita de maneira competente por Arbex.
"A televisão é um pólo ativo do processo de seleção e divulgação das notícias e também dos comentários e interpretações que delas são feitas. Ela não é mera ‘observadora’ ou ‘repórter’: tem o poder de interferir nos acontecimentos. O tele-noticiário diário adquiriu o estatuto de uma peça política, cuja lógica é determinada pelas relações de cada veículo de mídia com o sistema político, financeiro e econômico do país ou região em que ele se encontra."
A afirmação supra é especialmente verdadeira se considerarmos a cobertura das guerras norte-americanas. Preocupadas em difundir a "beleza asseada e ilusória" das imagens produzidas sob medida pelos militares e as opiniões dos especialistas (eufemismo para militares), as redes de TV endossaram a matança indiscriminada de velhos, mulheres e crianças. Raramente alguém na TV fez qualquer objeção à rígida censura jornalística imposta pelos norte-americanos ou fez a crítica da estética nazista.
Na primeira parte o autor trata ainda do indivíduo na era do clichê, do show de amnésia e memória, de como a televisão contamina a cultura e da ilusão "do fato como ele aconteceu". Na segunda parte o autor faz uma retrospectiva de sua rica experiência como jornalista da Folha de S. Paulo. Mas não vou estragar as agradáveis surpresas que a obra proporciona ao leitor. Encerro aqui esta resenha de Showrnalismo, livro que vale cada centavo de seu preço.
Por: Cleyton Douglas
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